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A Felicidade não é deste Mundo.
Diante de tal fato, é incontestável que as
classes laboriosas e militantes invejem com tanta ânsia a posição das
que parecem favorecidas da fortuna. Neste mundo, por mais que faça, cada
um tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de sofrimentos e de
decepções, donde facilmente se chega à conclusão de que a Terra é lugar
de provas e de expiações.
Assim, pois, os que pregam que ela é a única
morada do homem e que somente nela e numa só existência é que lhe cumpre
alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta,
iludem-se e enganam os que os escutam, visto que demonstrado está, por
experiência arqui-secular, que só excepcionalmente este globo apresenta
as condições necessárias à completa felicidade do indivíduo.
Em tese geral pode afirmar-se que a
felicidade é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam
sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la. Se o homem ajuizado é
uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi
encontrado.
Conseguintemente, se à morada terrena são
peculiares as provas e a expiação, forçoso é se admita que, algures,
moradas há mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado
ainda numa carne material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes
à vida humana. Tal a razão por que Deus semeou, no vosso turbilhão,
esses belos planetas superiores para os quais os vossos esforços e as
vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando vos achardes
suficientemente purificados e aperfeiçoados.
Todavia, não deduzais das minhas palavras que
a Terra esteja destinada para sempre a ser uma penitenciária. Não,
certamente! Dos progressos já realizados, podeis facilmente deduzir os
progressos futuros e, dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e
mais fecundos melhoramentos. Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à
nova doutrina que os Espíritos vos revelaram.
Assim, pois, meus queridos filhos, que uma
santa emulação vos anime e que cada um de vós se despoje do homem velho.
Deveis todos consagrar-vos à propagação desse Espiritismo que já deu
começo à vossa própria regeneração. Corre-vos o dever de fazer que os
vossos irmãos participem dos raios da sagrada luz. Mãos, portanto, à
obra, meus muito queridos filhos! Que nesta reunião solene todos os
vossos corações aspirem a esse grandioso objetivo de preparar para as
gerações porvindouras um mundo onde já não seja vã a palavra felicidade.
- François-Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot. (Paris,
1863.) O Evangelho segundo o Espiritismo Allan Kardec |
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