CAPÍTULO XXVIII
COLETÂNEA DE PRECES ESPÍRITAS
- Por alguém que esteja em aflição
- Ação de graças por um benefício concedido a outrem
- Pelos nossos inimigos e pelos que nos querem mal
- Ação de graças pelo bem concedido aos nossos inimigos
- Pelos inimigos do Espiritismo
- Por uma criança que acaba de nascer
Por alguém que
esteja em aflição
42. PREFÁCIO.
Se é do interesse do aflito que a sua prova prossiga, ela não será abreviada a
nosso pedido. Mas fora ato de impiedade desanimarmos por não ter sido satisfeita a nossa
súplica. Aliás, em falta de cessação da prova, podemos esperar alguma outra
consolação que lhe mitigue o amargor. O que de mais necessário há para aquele que se
acha aflito, são a resignação e a coragem, sem as quais não lhe será possível
sofrê-la com proveito para si, porque terá de recomeçá-la. É, pois, para esse
objetivo que nos cumpre, sobretudo, orientar os nossos esforços, quer pedindo lhe venham
em auxílio os bons Espíritos, quer levantando-lhe o moral por meio de conselhos e
encorajamentos, quer, enfim, assistindo-o materialmente, se for possível. A prece, neste
caso, pode também ter efeito direto, dirigindo, sobre a pessoa por quem é feita, uma
corrente fluídica com o intento de lhe fortalecer o moral. (Cap. V, nº 5 e nº 27; cap.
XXVII, nº 6 e nº 10.)
43. Prece.
- Deus de infinita bondade, digna-te de suavizar o amargor da posição em que se
encontra N..., se assim for a tua vontade.
Bons
Espíritos, em nome de Deus Todo-Poderoso, eu vos suplico que o assistais nas suas
aflições. Se, no seu interesse, elas lhe não puderem ser poupadas, fazei compreenda que
são necessárias ao seu progresso. Dai-lhe confiança em Deus e no futuro que lhas
tornará menos acerbas. Dai-lhe também forças para não sucumbir ao desespero, que lhe
faria perder o fruto de seus sofrimentos e lhe tornaria ainda mais penosa no futuro a
situação. Encaminhai para ele o meu pensamento, a fim de que o ajude a manter-se
corajoso.
Ação
de graças por um benefício concedido a outrem
44. PREFÁCIO.
Quem não se acha dominado pelo egoísmo rejubila-se com o bem que acontece ao seu
próximo, ainda mesmo que o não haja solicitado por meio da prece.
45. Prece.
- Meu Deus, sê bendito pela felicidade que adveio a N... Bons Espíritos, fazei que
nisso ele veja um efeito da bondade de Deus. Se o bem que lhe aconteceu é uma prova,
inspirai-lhe a lembrança de fazer bom uso dele e de se não envaidecer, a fim de que esse
bem não redunde, de futuro, em prejuízo seu.
A ti, bom
gênio que me proteges e desejas a minha felicidade, peço afastes do meu coração todo
sentimento de inveja ou de ciúme.
Pelos
nossos inimigos e pelos que nos querem mal
46. PREFÁCIO.
Disse Jesus: Amai os vossos inimigos. Esta máxima é o sublime da caridade
cristã; mas, enunciando-a, não pretendeu Jesus preceituar que devamos ter para com os
nossos Inimigos o carinho que dispensamos aos amigos. Por aquelas palavras, ele nos
recomenda que lhes esqueçamos as ofensas, que lhes perdoemos o mal que nos façam,
que lhes paguemos com o bem esse mal. Além do merecimento que, aos olhos de Deus, resulta
de semelhante proceder, ele eqüivale a mostrar aos homens o em que consiste a verdadeira
superioridade. (Cap. XII, nº 3 e nº 4.)
47. Prece.
- Meu Deus, perdôo a N... o mal que me fez e o que me quis fazer, como desejo me
perdoes e também ele me perdoe as faltas que eu haja cometido. Se o colocaste no meu
caminho, como prova para mim, faça-se a tua vontade.
Livra-me, ó
meu Deus, da idéia de o maldizer e de todo desejo malévolo contra ele. Faze que jamais
me alegre com as desgraças que lhe cheguem, nem me desgoste com os bens que lhe poderão
ser concedidos, a fim de não macular minha alma por pensamentos indignos de um cristão.
Possa a tua
bondade, Senhor, estendendo-se sobre ele, induzi-lo a alimentar melhores sentimentos para
comigo!
Bons
Espíritos, inspirai-me o esquecimento do mal e a lembrança do bem. Que nem o ódio, nem
o rancor, nem o desejo de lhe retribuir o mal com outro mal me entrem no coração,
porquanto o ódio e a vingança só são próprios dos Espíritos maus, encarnados e
desencarnados! Pronto esteja eu, ao contrário, a lhe estender mão fraterna, a lhe pagar
com o bem o mal e a auxiliá-lo, se estiver ao meu alcance.
Desejo, para
experimentar a sinceridade do que digo, que ocasião se me apresente de lhe ser útil;
mas, sobretudo, ó meu Deus, preserva-me de fazê-lo por orgulho ou ostentação,
abatendo-o com uma generosidade humilhante, o que me acarretaria a perda do fruto da minha
ação, pois, nesse caso, eu mereceria me fossem aplicadas estas palavras do Cristo: Já
recebeste a tua recompensa. (Cap. XIII, nº 1 e seguintes.)
Ação de graças pelo bem concedido aos nossos inimigos
48. PREFÁCIO.
Não desejar mal aos seus inimigos é ser apenas meio caridoso. A verdadeira caridade quer
que lhes almejemos o bem e que nos sintamos felizes com o bem que lhes advenha. (Cap. XII,
nº 7 e nº 8.)
49. Prece.
- Meu Deus, entendeste em tua justiça encher de júbilo o coração de N...
Agradeço-te por ele, sem embargo do mal que me fez ou que tem procurado fazer-me. Se
desse bem ele se aproveitasse para me humilhar, eu receberia isso como uma prova para a
minha caridade.
Bons
Espíritos que me protegeis, não permitais que me sinta pesaroso por isso. Isentai-me da
inveja e do ciúme que rebaixam. Inspirai-me, ao contrário, a generosidade que eleva. A
humilhação está no mal e não no bem; e sabemos que, cedo ou tarde, justiça será
feita a cada um, segundo suas obras.
50. Bem-aventurados
os famintos de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados
os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Ditosos
sereis, quando os homens vos carregarem de maldições, vos perseguirem e falsamente
disserem contra vós toda espécie de mal, por minha causa. - Rejubilai-vos, então,
porque grande recompensa vos está reservada nos céus, pois assim perseguiram eles os
profetas enviados antes de vós. (S. MATEUS, cap. V, vv. 6 e
Não temais
os que matam o corpo, mas que não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode
perder alma e corpo no inferno. (S. MATEUS, cap. X, v. 28.)
51. PREFÁCIO.
De todas as liberdades, a mais inviolável é a de pensar, que abrange a de a de
consciência. Lançar alguém anátema sobre os que não pensam como ele é reclamar para
si essa liberdade e negá-la aos outros, é violar o primeiro mandamento de Jesus: a
caridade e o amor do próximo. Perseguir os outros, por motivos de suas crenças, é
atentar contra o mais sagrado direito que tem todo homem o de crer no que lhe convém e de
adorar a Deus como o entenda. Constrangê-los a atos exteriores Semelhantes aos nossos é
mostrarmos que damos mais valor à forma do que ao fundo, mais às aparências, do que à
convicção. Nunca a abjuração forçada deu a quem quer que fosse a fé; apenas pode
fazer hipócritas. E um abuso da força material, que não prova a verdade. A verdade é
senhora de si: convence e não persegue, porque não precisa perseguir.
O Espiritismo
é uma opinião, uma crença; fosse (1) até uma religião, por que se não teria a
liberdade de se dizer espírita, como se tem a de se dizer católico, protestante, ou
judeu, adepto de tal ou qual doutrina filosófica, de tal ou qual sistema econômico? Essa
crença é falsa, ou é verdadeira, se é falsa, cairá por si mesma, visto que o erro
não pode prevalecer contra a verdade, quando se faz luz nas inteligências. Se é
verdadeira, não haverá perseguição que a torne falsa.
A
perseguição é o batismo de toda idéia nova, grande e justa e cresce com a
magnitude e a importância da idéia. O furor e o desabrimento dos seus inimigos são
proporcionais ao temor que ela lhes inspira. Tal a razão por que o Cristianismo foi
perseguido outrora e por que o Espiritismo o é hoje, com a diferença, todavia, de que
aquele o foi pelos pagãos, enquanto o segundo o é por cristãos. Passou o tempo das
perseguições sangrentas. É exato; contudo, se já não matam o corpo, torturam a alma,
atacam-na até nos seus mais íntimos sentimentos, nas suas mais caras afeições.
Lança-se a desunião nas famílias, excita-se a mãe contra a filha, a mulher contra o
marido; investe-se mesmo contra o corpo, agravando-se- lhe as necessidades materiais,
tirando-se-lhe o ganha-pão, para reduzir pela fome o crente. (Cap. XXIII, nº 9 e
seguintes.)
Espíritas,
não vos aflijais com os golpes que vos desfiram, pois eles provam que estais com a
verdade. Se assim não fosse, deixar-vos-iam tranqüilos e não vos procurariam ferir.
Constitui uma prova para a vossa fé, porquanto é pela vossa coragem, pela vossa
resignação e pela vossa paciência que Deus vos reconhecerá entre os seus servidores
fiéis, a cuja contagem ele hoje procede, para dar a cada um a parte que lhe toca, segundo
suas obras.
A exemplo dos
primeiros cristãos, carregai com altivez a vossa cruz. Crede na palavra do Cristo, que
disse: "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, que deles
é o reino dos céus. Não temais os que matam o corpo, mas que não podem matar a
alma." Ele também disse: "Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos fazem
mal e orai pelos que vos perseguem. Mostrai que sois seus verdadeiros discípulos e que a
vossa doutrina é boa, fazendo o que ele disse e fez.
A
perseguição pouco durará. Aguardai com paciência o romper da aurora, pois que já
rutila no horizonte a estrela d'alva. (Cap. XXIV, nº 13 e seguintes.)
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(1)
Ver "Reformador" de 1946, pág. 253; "Revue Spirite", de dezembro de
1868; "Allan Kardec", de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, vol. III, pág. 100.
Nota da Editora da FEB.
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52. Prece.
- Senhor, tu nos disseste pela boca de Jesus, o teu Messias: "Bem-aventurados os
que sofrem perseguição por amor da justiça; perdoai aos vossos inimigos; orai pelos que
vos persigam." E ele próprio nos deu o exemplo, orando pelos seus algozes.
Seguindo esse
exemplo, meu Deus, imploramos a tua misericórdia para os que desprezam os teus
sacratíssimos preceitos, únicos capazes de facultar a paz neste mundo e no outro. Como o
Cristo, também nós te dizemos: "Perdoa-lhes, Pai, que eles não sabem o que
fazem."
Dá-nos
forças para suportar com paciência e resignação, como provas para a nossa fé e a
nossa humildade, seus escárnios, injúrias, calúnias e perseguições; isenta-nos de
toda idéia de represálias, visto que para todos soará a hora da tua justiça, hora que
esperamos submissos à tua vontade santa.
Por uma criança
que acaba te nascer
53. PREFÁCIO.
Somente depois de terem passado pelas provas da vida corpórea, chegam à perfeição os
Espíritos. Os que se encontram na erraticidade aguardam que Deus lhes permita volver a
uma existência que lhes proporcione meios de progredir, quer pela expiação de suas
faltas passadas, mediante as vicissitudes a que fiquem sujeitos, quer desempenhando
uma missão proveitosa para a Humanidade. O seu adiantamento e a sua felicidade futura
serão proporcionados à maneira por que empreguem o tempo que hajam de estar na Terra. O
encargo de lhes guiar os primeiros passos e de os encaminhar para o bem cabe a seus pais,
que responderão perante Deus pelo desempenho que derem a esse mandato. Para lhos
facilitar, foi que Deus fez do amor paterno e do amor filial uma lei da Natureza, lei que
jamais se transgride impunemente.
54. Prece.
(Para ser dita pelos pais) - Espírito que encarnaste no corpo do nosso filho, sê
bem-vindo. Sê bendito, ó Deus Onipotente, que no-lo mandaste.
É um
depósito que nos foi confiado e do qual teremos um dia de prestar contas. Se ele pertence
à nova geração de Espíritos bons que hão de povoar a Terra, obrigado, ó meu Deus,
por essa graça! Se é uma alma imperfeita, corre-nos o dever de ajudá-lo a progredir na
senda do bem, pelos nossos conselhos e bons exemplos. Se cair no mal, por culpa nossa,
responderemos por isso, visto que, então, teremos falido em nossa missão junto dele.
Senhor,
ampara-nos em nossa tarefa e dá-nos a força e a vontade de cumpri-la. Se este filho nos
vem como provação para os nossos Espíritos, faça-se a tua vontade!
Bons
Espíritos que presidistes ao seu nascimento e que tendes de acompanhá-lo no curso de sua
existência, não o abandoneis. Afastai dele os maus Espíritos que tentem orientá-lo
para o mal. Dai-lhe forças para lhes resistir às sugestões e coragem para sofrer com
paciência e resignação as provas que o esperam na Terra. (Cap. XIV, n° 9.)
55. (Outra) -
Meu Deus, confiaste-me a sorte de um dos teus Espíritos; faze, Senhor, que eu seja
digno do encargo que me impuseste. Concede-me a tua proteção. Ilumina a minha
inteligência, a fim de que eu possa perceber desde cedo as tendências daquele que me
compete preparar para ascender à tua paz.
56. (Outra)
- Deus de bondade, pois que te aprouve permitir que o Espírito desta criança
viesse de novo sofrer as provas terrenas, destinadas a fazê-lo progredir, dá-lhe luz, a
fim de que aprenda a conhecer-te, amar-te e adorar-te. Faze, pela tua onipotência, que
esta alma se regenere na fonte das tuas sábias instruções; que, sob a égide do seu
anjo guardião, a sua inteligência se desenvolva e amplie e o leve a ter por aspiração
aproximar-se cada vez mais de ti; que a ciência do Espiritismo seja a luz brilhante que o
ilumine através dos escolhos da vida; que ele, enfim, saiba apreciar toda a extensão do
teu amor, que nos põe em prova, para purificar-nos.
Senhor,
lança paterno olhar sobre a família a que confiaste esta alma, para que ela compreenda a
importância da sua missão e faça que germinem nesta criança as boas sementes, até ao
dia em que ela possa, por suas próprias aspirações, elevar-se sozinha para ti.
Digna-te, ó
meu Deus, de atender a esta humilde prece, em nome e pelos merecimentos dAquele que disse:
"Deixai venham a mim as criancinhas, porquanto o reino dos céus é para os que se
lhes assemelham."
57. PREFÁCIO.
A agonia é o prelúdio da separação da alma e do corpo. Pode dizer-se que, nesse
momento, o homem tem um pé neste mundo e um no outro. É penosa às vezes essa passagem,
para os que muito apegados se acham à matéria e viveram mais para os bens deste mundo do
que para os do outro, ou cuja consciência se encontra agitada pelos pesares e remorsos.
Para aqueles cujos pensamentos, ao contrário, buscaram o Infinito e se desprenderam da
matéria, menos difíceis de romper-se são os laços que o prendem à Terra e nada têm
de dolorosos os seus últimos momentos. Apenas um fio liga, então, a alma ao corpo,
enquanto que no outro caso profundas raízes a conservam presa a este. Em todos os casos,
a prece exerce ação poderosa sobre o trabalho de separação. (Ver, adiante,
"Preces pelos doentes"; também O Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap. I -
"O Passamento".)
58. Prece.
- Deus onipotente e misericordioso, aqui está uma alma prestes a deixar o seu
envoltório terreno para volver ao mundo dos Espíritos, sua verdadeira pátria. Dado lhe
seja fazê-lo em paz e que sobre ela se estenda a tua misericórdia.
Bons
Espíritos, que a acompanhastes na Terra, não a abandoneis neste momento supremo. Dai-lhe
forças para suportar os últimos sofrimentos por que lhe cumpre passar neste mundo, a bem
do seu progresso futuro. Inspirai-a, para que consagre ao arrependimento de suas faltas os
últimos clarões de inteligência que lhe restem, ou que momentaneamente lhe advenham.
Dirigi o meu
pensamento, a fim de que atue de modo a tomar menos penoso para ela o trabalho da
separação e a fim de que leve consigo, ao abandonar a Terra, as consolações da
esperança.