CAPÍTULO XXI
HAVERÁ FALSOS CRISTOS E FALSOS PROFETAS
Conhece-se a árvore pelo
fruto. - Missão dos profetas. - Prodígios dos falsos profetas. - Não creais em todos os Espíritos. - Instruções
dos Espíritos: Os falsos profetas. - Caracteres do verdadeiro profeta. - Os falsos profetas da erraticidade. - Jeremias e os falsos profetas.
Conhece-se a árvore
pelo fruto
2. Guardai-vos
dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e que por dentro
são lobos rapaces. - Conhecê-lo-eis pelos seus frutos. Podem colher-se uvas nos
espinheiros ou figos nas sarças? - Assim, toda árvore boa produz bons frutos e toda
árvore má produz maus frutos. - Uma árvore boa não pode produzir frutos maus e uma
árvore má não pode produzir frutos bons. - Toda árvore que não produz bons frutos
será cortada e lançada ao fogo. - Conhecê-la-eis, pois, pelos seus frutos. (S. MATEUS,
cap. VII, vv.
3. Tende
cuidado para que alguém não vos seduza; - porque muitos virão em meu nome, dizendo:
Eu sou o Cristo, e seduzirão a muitos.
Levantar-se-ão
muitos falsos profetas que seduzirão a muitas pessoas; - e porque abundará a
iniqüidade, a caridade de muitos esfriará. - Mas aquele que perseverar até o fim se
salvará.
Então, se
alguém vos disser: O Cristo está aqui, ou está ali, não acrediteis absolutamente; -
porquanto falsos Cristos e falsos profetas se levantarão que farão grandes prodígios
e coisas de espantar, ao ponto de seduzirem, se fosse possível, os próprios
escolhidos. (S. MATEUS, cap. XXIV, vv. 4, 5,
4. Atribui-se
comumente aos profetas o dom de adivinhar o futuro, de sorte que as palavras profecia e
predição se tornaram sinônimas. No sentido evangélico, o vocábulo profeta tem
mais extensa significação. Diz-se de todo enviado de Deus com a missão de instruir os
homens e de lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual. Pode, pois,
um homem ser profeta, sem fazer predições. Aquela era a idéia dos judeus, ao tempo de
Jesus. Daí vem que, quando o levaram à presença do sumo-sacerdote Caifás, os escribas
e os anciães, reunidos, lhe cuspiram no rosto, lhe deram socos e bofetadas, dizendo:
"Cristo, profetiza para nós e dize quem foi que te bateu." Entretanto, deu-se o
caso de haver profetas que tiveram a presciência do futura, quer por intuição, quer por
providencial revelação, a fim de transmitirem avisos aos homens. Tendo-se realizado os
acontecimentos preditos, o dom de predizer o futuro foi considerado como um dos atributos
da qualidade de profeta.
5.
"Levantar-se-ão falsos Cristos e falsos profetas, que farão grandes prodígios e
coisas de espantar, a ponto de seduzirem os próprios escolhidos." Estas palavras
dão o verdadeiro sentido do termo prodígio. Na acepção teológica, os prodígios e os
milagres são fenômenos excepcionais, fora das leis da Natureza. Sendo estas, exclusivamente,
obra de Deus, pode ele, sem dúvida, derrogá-las, se lhe apraz; o simples bom senso,
porém, diz que não é possível haja ele dado a seres inferiores e perversos um poder
igual ao seu, nem, ainda menos, o direito de desfazer o que ele tenha feito. Semelhante
princípio não no pode Jesus ter consagrado. Se, portanto, de acordo com o sentido que se
atribui a essas palavras, o Espírito do mal tem o poder de fazer prodígios tais que os
próprios escolhidos se deixem enganar, o resultado seria que, podendo fazer o que Deus
faz, os prodígios e os milagres não são privilégio exclusivo dos enviados de Deus e
nada provam, pois que nada distingue os milagres dos santos dos milagres do demônio.
Necessário, então, se torna procurar um sentido mais racional para aquelas palavras.
Para o vulgo
ignorante, todo fenômeno cuja causa é desconhecida passa por sobrenatural, maravilhoso e
miraculoso; uma vez encontrada a causa, reconhece-se que o fenômeno, por muito
extraordinário que pareça, mais não é do que aplicação de urna lei da Natureza.
Assim, o círculo dos fatos sobrenaturais se restringe à medida que o da Ciência se
alarga. Em todos os tempos, homens houve que exploraram, em proveito de suas ambições,
de seus interesses e do seu anseio de dominação, certos conhecimentos que possuíam, a
fim de alcançarem o prestígio de um pseudopoder sobre-humano, ou de Lima pretendida
missão divina. São esses os falsos Cristos e falsos profetas. A difusão das luzes lhes
aniquila o crédito, donde resulta que o número deles diminui à proporção que os
homens se esclarecem. O fato de operar o que certas pessoas consideram prodígios não
constitui, pois, sinal de uma missão divina, visto que pode resultar de conhecimento cuja
aquisição está ao alcance de qualquer um, ou de faculdades orgânicas especiais, que o
mais indigno não se acha inibido de possuir, tanto quanto o mais digno. O verdadeiro
profeta se reconhece por mais sérios caracteres e exclusivamente morais.
Não creais em
todos os Espíritos
6. Meus
bem-amados, não creais
7. Os
fenômenos espíritas, longe de abonarem os falsos Cristos e os falsos profetas,
como a algumas pessoas apraz dizer, golpe mortal desferem neles. Não peçais ao
Espiritismo prodígios, nem milagres, porquanto ele formalmente declara que os não opera.
Do mesmo modo que a Física, a Química, a Astronomia, a Geologia revelaram as leis do
inundo material, ele revela outras leis desconhecidas, as que regem as relações do mundo
corpóreo com o mundo espiritual, leis que, tanto quanto aquelas outras da Ciência, são
leis da Natureza. Facultando a explicação de certa ordem de fenômenos incompreendidos
até o presente, ele destrói o que ainda restava do domínio do maravilhoso. Quem,
portanto, se sentisse tentado a lhe explorar em proveito próprio os fenômenos,
fazendo-se passar por messias de Deus, não conseguiria abusar por muito tempo da
credulidade alheia e seria logo desmascarado. Aliás, como já se tem dito, tais
fenômenos, por si sós, nada provam: a missão se prova por efeitos morais, o que não é
dado a qualquer um produzir. Esse um dos resultados do desenvolvimento da ciência
espírita; pesquisando a causa de certos fenômenos, de sobre muitos mistérios levanta
ela o véu. Só os que preferem a obscuridade à luz, têm interesse em combatê-la; mas,
a verdade é como o Sol: dissipa os mais densos nevoeiros.
O Espiritismo
revela outra categoria bem mais perigosa de falsos Cristos e de falsos profetas, que se
encontram, não entre os homens, mas entre os desencarnados: a dos Espíritos enganadores,
hipócritas, orgulhosos e pseudo-sábios, que passaram da Terra para a erraticidade e
tomam nomes venerados para, sob a máscara de que se cobrem, facilitarem a aceitação das
mais singulares e absurdas idéias. Antes que se conhecessem
as relações mediúnicas, eles atuavam de maneira menos ostensiva, pela inspiração,
pela mediunidade inconsciente, audiente ou falante. É considerável o número dos que, em
diversas épocas, mas, sobretudo, nestes últimos tempos, se hão apresentado como alguns
dos antigos profetas, como o Cristo, como Maria, sua mãe, e até como Deus. S. João
adverte contra eles os homens, dizendo: Meus bem-amados, não acrediteis
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(1)
Ver, sobre a maneira de se distinguirem os Espíritos: O Livro dos Médiuns, 2ª Parte,
cap. XXIV e seguintes.
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Os falsos profetas
8. Se vos
disserem: "O Cristo está aqui", não vades; ao contrário, tende-vos em guarda,
porquanto numerosos serão os falsos profetas. Não vedes que as folhas da figueira
começam a branquear; não vedes os seus múltiplos rebentos aguardando a época da
floração; e não vos disse o Cristo: Conhece-se a árvore pelo fruto? Se, pois, são
amargos os frutos, já sabeis que má é a árvore; se, porém, são doces e saudáveis,
direis: Nada que seja puro pode provir de fonte má."
É assim,
meus irmãos, que deveis julgar; são as obras que deveis examinar. Se os que se dizem
investidos de poder divino revelam sinais de uma missão de natureza elevada, isto é, se
possuem no mais alto grau as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a
indulgência, a bondade que concilia os corações; se, em apoio das palavras, apresentam
os atos, podereis então dizer: Estes são realmente enviados de Deus.
Desconfiai,
porém, das palavras melífluas, desconfiai dos escribas e dos fariseus que oram nas
praças públicas, vestidos de longas túnicas. Desconfiai dos que pretendem ter o
monopólio da verdade!
Não, não, o
Cristo não está entre esses, porquanto os que ele envia para propagar a sua santa
doutrina e regenerar o seu povo serão, acima de tudo, seguindo-lhe o exemplo, brandos e
humildes de coração; os que hajam, com os exemplos e conselhos que prodigalizem, de
salvar a humanidade, que corre para a perdição e pervaga por caminhos tortuosos, serão
essencialmente modestos e humildes. De tudo o que revele um átomo de orgulho, fugi, como
de uma lepra contagiosa, que corrompe tudo em que toca. Lembrai-vos de que cada
criatura traz na fronte, mas principalmente nos atos, o cunho da sua grandeza ou da sua
inferioridade.
Ide,
portanto, meus filhos bem-amados, caminhai sem tergiversações, sem pensamentos ocultos,
na rota bendita que tomastes. Ide, ide sempre, sem temor; afastai, cuidadosamente, tudo o
que vos possa entravar a marcha para o objetivo eterno. Viajores, só por pouco tempo mais
estareis nas trevas e nas dores da provação, se abrirdes o vosso coração a essa suave
doutrina que vos vem revelar as leis eternas e satisfazer a todas as aspirações de vossa
alma acerca do desconhecido. Já podeis dar corpo a esses silfos ligeiros que vedes passar
nos vossos sonhos e que, efêmeros, apenas vos encantavam o espírito, sem coisa alguma
dizerem ao vosso coração. Agora, meus amados, a morte desapareceu, dando lugar ao anjo
radioso que conheceis, o anjo do novo encontro e da reunião! Agora, vós que bem
desempenhado haveis a tarefa que o Criador confia às suas criaturas, nada mais tendes de
temer da sua justiça, pois ele é pai e perdoa sempre aos filhos transviados que clamam
por misericórdia. Continuai, por tanto, avançai incessantemente. Seja vossa divisa a do
progresso, do progresso contínuo em todas as coisas, até que, finalmente, chegueis ao
termo feliz da jornada, onde vos esperam todos os que vos precederam. - Luís. (Bordéus,
1861.)
Caracteres de
verdadeiro profeta
9. Desconfiai
dos falsos profetas. É útil em todos os tempos essa recomendação, mas, sobretudo,
nos momentos de transição em que, como no atual, se elabora uma transformação da
Humanidade, porque, então, uma multidão de ambiciosos e intrigantes se arvoram em
reformadores e messias. E contra esses impostores que se deve estar em guarda, correndo a
todo homem honesto o dever de os desmascarar. Perguntareis, sem dúvida, como
reconhecê-los. Aqui tendes o que os assinala:
Somente a um
hábil general, capaz de o dirigir, se confia o comando de um exército. Julgais que Deus
seja menos prudente do que os homens? Ficai certos de que só confia missões importantes
aos que ele sabe capazes de as cumprir, porquanto as grandes missões são fardos pesados
que esmagariam o homem carente de forças para carregá-los. Em todas as coisas, o mestre
há de sempre saber mais do que o discípulo; para fazer que a Humanidade avance
moralmente e intelectualmente, são precisos homens superiores em inteligência e
Isto posto,
haveis de concluir que o verdadeiro missionário de Deus tem de justificar, pela sua
superioridade, pelas suas virtudes, pela grandeza, pelo resultado e pela influência
moralizadora de suas obras, a missão de que se diz portador. Tirai também esta outra
conseqüência: se, pelo seu caráter, pelas suas virtudes, pela sua inteligência, ele se
mostra abaixo do papel com que se apresente, ou da personagem sob cujo nome se coloca,
mais não é do que um histrião de baixo estofo, que nem sequer sabe imitar o modelo que
escolheu.
Outra
consideração: os verdadeiros missionários de Deus ignoram-se a si mesmos, em sua maior
parte; desempenham a missão a que foram chamados pela força do gênio que possuem,
secundado pelo poder oculto que os inspira e dirige a seu mau grado, mas sem desígnio
premeditado. Numa palavra: os verdadeiros profetas se revelam por seus atos, são
adivinhados, ao passo que os falsos profetas se dão, eles próprios, como enviados de
Deus. O primeiro é humilde e modesto; o segundo, orgulhoso e cheio de si, fala com
altivez e, como todos os mendazes, parece sempre temeroso de que não lhe dêem crédito.
Alguns desses
impostores têm havido, pretendendo passar por apóstolos do Cristo, outros pelo próprio
Cristo, e, para vergonha da Humanidade, hão encontrado pessoas assaz crédulas que lhes
crêem nas torpezas. Entretanto, uma ponderação bem simples seria bastante a abrir os
olhos do mais cego, a de que se o Cristo reencarnasse na Terra, viria com todo o seu poder
e todas as suas virtudes, a menos se admitisse, o que fora absurdo, que houvesse
degenerado. Ora, do mesmo modo que, se tirardes a Deus um só de seus atributos, já não
tereis Deus, se tirardes uma só de suas virtudes ao Cristo, já não mais o tereis.
Possuem todas as suas virtudes os que se dão como sendo o Cristo? Essa a questão.
Observai-os, perscrutai-lhes as idéias e os atos e reconhecereis que, acima de tudo, lhes
faltam as qualidades distintivas do Cristo; a humildade e a caridade, sobejando-lhes as
que o Cristo não tinha: a cupidez e o orgulho. Notai, ao demais, que neste momento há,
em vários países, muitos pretensos Cristos, como há muitos pretensos Elias, muitos S.
João ou S. Pedro e que não é absolutamente possível sejam verdadeiros todos, Tende
como certo que são apenas criaturas que exploram a credulidade dos outros e acham cômodo
viver à custa dos que lhes prestam
Desconfiai,
pois, dos falsos profetas, máxime numa época de renovação, qual a presente, porque
muitos impostores se dirão enviados de Deus. Eles procuram satisfazer na Terra à sua
vaidade; mas uma terrível justiça os espera, podeis estar certos. - Erasto. (Paris,
1862.)
Os falsos profetas
da erraticidade
10. Os falsos profetas não se encontram unicamente entre os
encarnados. Há-os também, e em muito maior número, entre os Espíritos orgulhosos que,
aparentando amor e caridade, semeiam a desunião e retardam a obra de emancipação da
Humanidade, lançando-lhe de través seus sistemas absurdos, depois de terem feito que
seus médiuns os aceitem. E, para melhor fascinarem aqueles a quem desejam iludir, para
darem mais peso às suas teorias, se apropriam sem escrúpulo de nomes que só com muito
respeito os homens pronunciam.
São eles que
espalham o fermento dos antagonismos entre os grupos, que os impelem a isolarem-se uns dos
outros e a olharem-se com prevenção. Isso por si só bastaria para os desmascarar, pois,
procedendo assim, são os primeiros a dar o mais formal desmentido às suas pretensões.
Cegos, portanto, são os homens que se deixam cair em tão grosseiro embuste.
Mas, há
muitos outros meios de serem reconhecidos. Espíritos da categoria em que eles dizem
achar-se têm de ser não só muito bons, como também eminentemente racionais. Pois bem:
passai-lhes os sistemas pelo crivo da razão e do bom senso e vede o que restará.
Convinde, pois, comigo, em que, todas as vezes que um Espírito indica, como remédio aos
males da Humanidade ou como meio de conseguir-se a sua transformação, coisas utópicas e
impraticáveis, medidas pueris e ridículas; quando formula um sistema que as mais
rudimentares noções da Ciência contradizem, não pode ser senão um Espírito ignorante
e mentiroso.
Por outro
lado, crede que, se nem sempre os indivíduos apreciam a verdade, esta é apreciada sempre
pelo bom senso das massas, constituindo isso mais um critério. Se dois princípios se
contradizem, achareis a medida do valor intrínseco de ambos, verificando qual dos dois
encontra mais ecos e simpatias. Fora, com efeito, ilógico admitir-se que uma doutrina
cujo número de adeptos diminua progressivamente seja mais verdadeira do que outra que
veja o dos seus em continuo aumento. Querendo que a verdade chegue a todos, Deus não
a confina num círculo acanhado: fá-la surgir em diferentes pontos, a fim de que por toda
a parte a luz esteja ao lado das trevas.
Repeli sem
condescendência todos esses Espíritos que se apresentam como conselheiros exclusivos,
pregando a separação e o insulamento. São quase sempre Espíritos vaidosos e
medíocres, que procuram impor-se a homens fracos e crédulos, prodigalizando-lhes
exagerados louvores, a fim de os fascinar e de tê-los dominados. São, geralmente,
Espíritos sequiosos de poder e que, déspotas públicos ou nos lares, quando vivos, ainda
querem vitimas para tiranizar depois de terem morrido. Em geral, desconfiai das
Estai certos,
igualmente, de que quando uma verdade tem de ser revelada aos homens, é, por assim dizer,
comunicada instantaneamente a todos os grupos sérios, que dispõem de médiuns também
sérios, e não a tais ou quais, com exclusão dos outros. Nenhum médium é perfeito, se
está obsidiado; e há manifesta obsessão quando um médium só é apto a receber
comunicações de determinado Espírito, por mais alto que este procure colocar-se.
Conseguintemente, todo médium e todo grupo que considerem privilégio seu receber as
comunicações que obtêm e que, por outro lado, se submetem a práticas que tendem para a
superstição, indubitavelmente se acham presas de uma obsessão bem caracterizada,
sobretudo quando o Espírito dominador se pavoneia com um nome que todos, encarnados e
desencarnados, devem honrar e respeitar e não permitir seja declinado a todo propósito.
É
incontestável que, submetendo ao crivo da razão e da lógica todos os dados e todas as
comunicações dos Espíritos, fácil se torna rejeitar a absurdidade e o erro, Pode um
médium ser fascinado, e iludido um grupo; mas, a verificação severa a que procedam os
outros grupos, a ciência adquirida, a alta autoridade moral dos diretores de grupos, as
comunicações que os principais médiuns recebam, com um cunho de lógica e de
autenticidade dos melhores Espíritos, justiçarão rapidamente esses ditados mentirosos e
astuciosos, emanados de uma turba de Espíritos mistificadores ou maus. - Erasto, discípulo
de São Paulo. (Paris, 1862,)
(Veja-se, na "Introdução", o parágrafo II: Verificação
universal do ensino dos Espíritos. - O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII, Da
obsessão.)
11. Eis o
que diz o Senhor dos Exércitos: Não escuteis as palavras dos profetas que vos profetizam
e que vos enganam. Eles publicam as visões de seus corações e não o que aprenderam da
boca do Senhor. - Dizem aos que de mim blasfemam: O Senhor o disse, tereis paz; e a todos
os que andam na corrupção de seus corações: Nenhum mal vos acontecerá. - Mas, qual
dentre eles assistiu ao conselho de Deus? Qual o que o viu e escutou o que ele disse? - Eu
não enviava esses profetas; eles corriam por si mesmos; eu absolutamente não lhes
falava; eles profetizavam de suas cabeças. - Eu ouvi o que disseram esses profetas que
profetizavam a mentira em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei. - Até quando essa'
imaginação estará no coração dos que profetizam a mentira e cujas profecias não são
senão as seduções do coração deles? Se, pois, este povo, ou um profeta, ou um
sacerdote vos interrogar e disser: Qual o fardo do Senhor? dir-lhe-eis: vós mesmos sois o
fardo e eu vos lançarei bem longe de mim, diz o Senhor. (JEREMIAS, cap. XXIII, vv.
É dessa
passagem do profeta Jeremias que quero tratar convosco, meus amigos. Falando pela sua
boca, diz Deus: "É a visão do coração deles que os faz falar." Essas
palavras claramente indicam que, já naquela época, os charlatães e os exaltados
abusavam do dom de profecia e o exploravam. Abusavam, por conseguinte, da fé simples e
quase cega do povo, predizendo, por dinheiro, coisas boas e agradáveis. Muito
generalizada se achava essa espécie de fraude na nação judia, e fácil é de
compreender-se que o pobre povo, em sua ignorância, nenhuma possibilidade tinha de
distinguir os bons dos maus, sendo sempre mais ou menos ludibriado pelos pseudoprofetas,
que não passavam de impostores ou fanáticos. Nada há de mais significativo do que estas
palavras: Eu não enviei esses profetas e eles correram por si mesmos; não lhes
falei e eles profetizaram." Mais adiante, diz: "Eu ouvi esses profetas que
profetizavam a mentira em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei." Indicava assim um dos
meios que eles empregavam para explorar a confiança de que eram objeto. A multidão,
sempre crédula, não pensava em lhes contestar a veracidade dos sonhos, ou das visões;
achava isso muito natural e constantemente os convidava a falar.
Após as
palavras do profeta, escutai os sábios conselhos do apóstolo S. João, quando diz:
"Não acrediteis