CAPÍTULO V
BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
Justiça das aflições. - Causas atuais das aflições. - Causas anteriores das aflições. - Esquecimento do passado. - Motivos de resignação. - O suicídio e a loucura. - Instruções dos
Espíritos: Bem e mal sofrer. - O mal e o remédio. - A felicidade não é deste mundo. – Perda de pessoas amadas. Mortes
prematuras. - Se fosse um homem de
bem, teria morrido. – Os tormentos
voluntários. - A desgraça real. - A melancolia. - Provas voluntárias. O verdadeiro
cilício. - Dever-se-á pôr
termo às provas do próximo? - Será
lícito abreviar a vida de um doente que sofra sem esperança de cura? - Sacrifício da própria vida. - Proveito dos sofrimentos para outrem.
1.
Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados. – Bem-aventurados os
famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados. – Bem-aventurados os
que sofrem perseguição pela justiça, pois que é deles o reino dos céus. (S. MATEUS,
cap. V, vv. 5, 6 e 10.)
2.
Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o reino dos céus. –
Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. - Ditosos sois, vós
que agora chorais, porque rireis. (S. LUCAS, cap. VI, vv. 20 e 21.)
Mas, ai de
vós, ricos que tendes no mundo a vossa consolação. - Ai de vós que estais saciados,
porque tereis fome. - Ai de vós que agora rides, porque sereis constrangidos a gemer e a
chorar. (S. LUCAS, cap. VI, vv. 24 e 25.)
3. Somente na
vida futura podem efetivar-se as compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra.
Sem a certeza do futuro, estas máximas seriam um contra-senso; mais ainda: seriam um
engodo. Mesmo com essa certeza, dificilmente se compreende a conveniência de sofrer para
ser feliz. E, dizem, para se ter maior mérito. Mas, então, pergunta-se: por que sofrem
uns mais do que outros? Por que nascem uns na miséria e outros na opulência, sem coisa
alguma haverem feito que justifique essas posições? Por que uns nada conseguem, ao passo
que a outros tudo parece sorrir? Todavia, o que ainda menos se compreende é que os bens e
os males sejam tão desigualmente repartidos entre o vício e a virtude; e que os homens
virtuosos sofram, ao lado dos maus que prosperam. A fé no futuro pode consolar e infundir
paciência, mas não explica essas anomalias, que parecem desmentir a justiça de Deus.
Entretanto, desde que admita a existência de Deus, ninguém o pode conceber sem o
infinito
das perfeições. Ele necessariamente tem todo o poder, toda a
justiça, toda a bondade, sem o que não seria Deus. Se é soberanamente bom e justo, não
pode agir caprichosamente, nem com parcialidade. Logo, as vicissitudes da vida derivam
de uma causa e, pois que Deus é justo, justa há de ser essa causa. Isso o de que
cada um deve bem compenetrar-se. Por meio dos ensinos de Jesus, Deus pôs os homens na
direção dessa causa, e hoje, julgando-os suficientemente maduros para compreendê-la,
lhes revela completamente a aludida causa, por meio do Espiritismo, isto é, pela palavra
dos Espíritos.
4. De duas
espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem
diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora
desta vida.
Remontando-se
à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são conseqüência natural do
caráter e do proceder dos que os suportam. Quantos homens caem por sua própria culpa!
Quantos são
vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!
Quantos se
arruinam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido
limitar seus desejos!
Quantas
uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade e nas
quais o coração não tomou parte alguma!
Quantas
dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos
suscetibilidade!
Quantas
doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!
Quantos pais
são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más
tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os
germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração;
depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de
deferência com que são tratados e da ingratidão deles.
Interroguem
friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e
decepções da vida; remontem passo a passo à origem dos males que os torturam e
verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado
de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição.
A quem,
então, há de o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo? O
homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios;
mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade
acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela
é apenas a sua incúria.
Os males
dessa natureza fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao cômputo das
vicissitudes davida. O homem as evitará quando trabalhar por se melhorar moralmente,
tanto quanto intelectualmente.
que se emendasse. Confiante na impunidade, retardaria seu avanço e,
conseqüentemente, a sua felicidade futura.
Entretanto, a
experiência, algumas vezes, chega um pouco tarde: quando a vida já foi desperdiçada e
turbada; quando as forças já estão gastas e sem remédio o mal, Põe-se então o homem
a dizer: "Se no começo dos meus dias eu soubera o que sei hoje, quantos passos em
falso teria evitado! Se houvesse de recomeçar, conduzir-me-ia de outra maneira. No
entanto, já não há mais tempo!" Como o obreiro preguiçoso, que diz: "Perdi o
meu dia", também ele diz: "Perdi a minha vida". Contudo, assim como para o
obreiro o Sol se levanta no dia seguinte, permitindo-lhe neste reparar o tempo perdido,
também para o homem, após a noite do túmulo, brilhará o Sol de uma nova vida, em que
lhe será possível aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o
futuro.
Causas anteriores das
aflições
6. Mas, se
há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos quais, pelo
menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem atingi-lo como por
fatalidade. Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a dos que são o amparo da
família. Tais, ainda, os acidentes que nenhuma previsão poderia impedir; os reveses da
fortuna, que frustram todas as precauções aconselhadas pela prudência; os flagelos
naturais, as enfermidades de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios
de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.
Os que nascem
nessas condições, certamente nada hão feito na existência atual para merecer, sem
compensação, tão triste sorte, que não podiam evitar, que são impotentes para mudar
por si mesmos e que os põe à mercê da comiseração pública. Por que, pois, seres tão
desgraçados, enquanto, ao lado deles, sob o mesmo teto, na mesma família, outros são
favorecidos de todos os modos?
Que dizer, enfim, dessas crianças que morrem em tenra idade e da vida
só conheceram sofrimentos? Problemas são esses que ainda nenhuma filosofia pôde
resolver, anomalias que nenhuma religião pôde justificar e que seriam a negação da
bondade, da justiça e da providência de Deus, se se verificasse a hipótese de ser
criada a alma ao mesmo tempo que o corpo e de estar a sua sorte irrevogavelmente
determinada após a permanência de alguns instantes na Terra. Que fizeram essas almas,
que acabam de sair das mãos do Criador, para se verem, neste mundo, a braços com tantas
misérias e para merecerem no futuro urna recompensa ou uma punição qualquer, visto que
não hão podido praticar nem o bem, nem o mal?
Todavia, por
virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são
efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também
há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na
vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência
precedente. Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal
que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na
presente vida, tê-lo-emos feito noutra. E uma alternativa a que ninguém pode fugir e em
que a lógica decide de que parte se acha a justiça de Deus.
O homem,
pois, nem sempre é punido, ou punido completamente, na sua existência atual; mas não
escapa nunca às conseqüências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas
momentânea; se ele não expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que sofre
está expiando o seu passado. O infortúnio que, à primeira vista, parece imerecido tem
sua razão de ser, e aquele que se encontra em sofrimento pode sempre dizer: 'Perdoa-me,
Senhor, porque pequei.
7. Os
sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam
de culpas atuais, são muitas vezes a conseqüência da falta cometida, isto é, o homem,
pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros. Se
foi duro e desumano, poderá ser a seu turno tratado duramente e com desumanidade; se foi
orgulhoso, poderá nascer em humilhante condição; se foi avaro, egoísta, ou se fez mau
uso de suas riquezas, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá
sofrer pelo procedimento de seus filhos, etc.
Assim se
explicam pela pluralidade das existências e pela destinação da Terra, como mundo
expiatório, as anomalias que apresenta a distribuição da ventura e da desventura entre
os bons e os maus neste planeta. Semelhante anomalia, contudo, só existe na aparência,
porque considerada tão-só do ponto de vista da vida presente. Aquele que se elevar, pelo
pensamento, de maneira a apreender toda uma série de existências, verá que a cada um é
atribuída a parte que lhe compete, sem prejuízo da que lhe tocará no mundo dos
Espíritos, e verá que a justiça de Deus nunca se interrompe.
Jamais deve o
homem olvidar que se acha num mundo inferior, ao qual somente as suas imperfeições o
conservam preso. A cada vicissitude, cumpre-lhe lembrar-se de que, se pertencesse a um
mundo mais adiantado, isso não se daria e que só de si depende não voltar a este,
trabalhando por se melhorar.
8. As
tribulações podem ser impostas a Espíritos endurecidos, ou extremamente ignorantes,
para levá-los a fazer uma escolha com conhecimento de causa. Os Espíritos penitentes,
porém, desejosos de reparar o mal que hajam feito e de proceder melhor, esses as
escolhem livremente. Tal o caso de um que, havendo desempenhado mal sua tarefa, pede lha
deixem recomeçar, para não perder o fruto de seu trabalho As tribulações, portanto,
são, ao mesmo tempo, expiações do passado, que recebe nelas o merecido castigo, e
provas com relação ao futuro, que elas preparam. Rendamos graças a Deus, que, em sua
bondade, faculta ao homem reparar seus erros e não o condena irrevogavelmente por uma
primeira falta.
9. Não há
crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma
determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir
a sua depuração e ativar o seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas
nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de
relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois,
um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso de
adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual tanto mais
recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta. Tais são,
especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres
sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas precedentes
existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores, somente
pedindo a Deus que as possam suportar sem murmurar. Pode-se, ao contrário, considerar
como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra
Deus.
Sem dúvida,
o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas, é indício de que
foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e constitui prova de forte resolução, o
que é sinal de progresso.
10. Os
Espíritos não podem aspirar à completa felicidade, enquanto não se tenham tornado
puros: qualquer mácula lhes interdita a entrada nos mundos ditosos. São como os
passageiros de um navio onde há pestosos, aos quais se veda o acesso à cidade a que
aportem, até que se hajam expurgado. Mediante as diversas existências corpóreas é que
os Espíritos se vão expungindo, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provações da
vida os fazem adiantar-se, quando bem suportadas. Como expiações, elas apagam as faltas
e purificam. São o remédio que limpa as chagas e cura o doente. Quanto mais grave é o
mal, tanto mais enérgico deve ser o remédio. Aquele, pois, que muito sofre deve
reconhecer que muito tinha a expiar e deve regozijar-se à idéia da sua próxima cura.
Dele depende, pela resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o
fruto com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá de recomeçar.
11. Em vão
se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar da
experiência de vidas anteriores. havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o
passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos
inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então,
exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as
circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais.
Freqüentemente,
o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com
as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse nelas as a
quem odiara, quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no íntimo. De todo modo, ele se
sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse ofendido.
Para nos
melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e nos basta: a voz da
consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial.
Ao nascer,
traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada existência, tem um novo
ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se se vê punido, é que
praticou o mal. Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta a corrigir em si
próprio e é nisso que deve concentrar-se toda a sua atenção, porquanto, daquilo de que
se haja corrigido completamente, nenhum traço mais conservará. As boas resoluções que
tomou são a voz da consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe
forças para resistir às tentações.
Aliás, o
esquecimento ocorre apenas durante a vida corpórea. Volvendo à vida espiritual,
readquire o Espírito a lembrança do passado; nada mais há, portanto, do que uma
interrupção temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre durante o sono, a
qual não obsta a que, no dia seguinte, nos recordemos do que tenhamos feito na véspera e
nos dias precedentes.
E não é
somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança dó passado. Pode dizer-se que jamais a perde, pois que, como a
experiência o demonstra, mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasião em que goza de
certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus atos anteriores; sabe por que sofre
e que sofre com justiça. A lembrança unicamente se apaga no curso da vida exterior, da
vida de relação. Mas, na falta de uma recordação exata, que lhe poderia ser penosa e
prejudicá-lo nas suas relações sociais, forças novas haure ele nesses instantes de
emancipação da alma, se os sabe aproveitar.
12. Por estas
palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus aponta a
compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que leva o padecente a
bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura.
Também podem
essas palavras ser traduzidas assim: Deveis considerar-vos felizes por sofrerdes, visto
que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as vossas passadas faltas vos
fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra, essas dores vos poupam séculos de
sofrimentos na vida futura. Deveis, pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa
dívida, permitindo que a saldeis agora, o que vos garantirá a tranqüilidade no porvir.
O homem que
sofre assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o credor diz: "Se me pagares
hoje mesmo a centésima parte do teu débito, quitar-te-ei do restante e ficarás livre;
se o não fizeres, atormentar-te-ei, até que pagues a última parcela." Não se
sentiria feliz o devedor por suportar toda espécie de privações para se libertar,
pagando apenas a centésima parte do que deve? Em vez de se queixar do seu credor, não
lhe ficará agradecido?
Tal o sentido
das palavras: "Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados." São
ditosos, porque se quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão livres. Se,
porém, o homem, ao quitar-se de um lado, endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a
sua libertação. Ora, cada nova falta aumenta a dívida, porquanto nenhuma há, qualquer
que ela seja, que não acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for
hoje, será amanhã; se não for na vida atual, será noutra. Entre essas faltas, cumpre
se coloque na primeira fiada a carência de submissão à vontade de Deus. Logo, se
murmurarmos nas aflições, se não as aceitarmos com resignação e como algo que devemos
ter merecido, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos, que nos faz
perder o fruto que devíamos colher do sofrimento. E por isso que teremos de recomeçar,
absolutamente como se, a um credor que nos atormente, pagássemos uma cota e a tomássemos
de novo por empréstimo.
Ao entrar no
mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o operário que comparece no dia do
pagamento. A uns dirá o Senhor: "Aqui tens a paga dos teus dias de trabalho"; a
outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que tiverem feito
consistir a sua felicidade nas satisfações do amor-próprio e nos gozos mundanos:
"Nada vos toca, pois que recebestes na Terra o vosso salário. Ide e recomeçai a
tarefa."
13. O homem
pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a vida
terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a duração do sofrimento.
Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida
corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe a curteza e reconhece que
esse penoso momento terá presto passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o
sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar.
Contrariamente, para aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe parece
esta, e a dor o oprime com todo o seu peso. Daquela maneira de considerar a vida, resulta
ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se compelido o homem a
moderar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, a
receber atenuada a impressão dos reveses e das decepções que experimente. Dai tira ele
uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo
que, com a inveja, o ciúme e a ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta
as misérias e as angústias da sua curta existência.
15. O mesmo
ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de
loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre
por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe
apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores
serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando
nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à
eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga
que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente
na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural,
muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.
A
propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a idéia do
suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes
doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a
dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga
indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência
e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma,
a coragem moral.
17. O
Espiritismo ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo e talvez
mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação
desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus,
que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há cujos sofrimentos,
nem por serem temporários e não eternos, não são menos terríveis e de natureza a
fazer refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes que Deus o haja ordenado. O
espírita tem, assim, vários motivos a contrapor à idéia do suicídio: a certeza de
uma vida futura, em que, sabe-o ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso
e resignado haja sido na Terra: a certeza de que, abreviando seus dias, chega,
precisamente, a resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer
num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se,
vai mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele
se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar; donde a
conseqüência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus
próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos que têm sido,
pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí concluir-se que, quando todos os
homens forem espiritas, deixará de haver suicídios conscientes. Comparando-se, então,
os resultados que as doutrinas materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina
Espírita, somente do ponto de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto
a lógica das primeiras a ele conduz, a da outra o evita, fato que a experiência
confirma.
Bem e mal sofrer
18. Quando o
Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes pertence",
não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram
na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos
compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O
desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem. A
prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva
na bondade de Deus. Ele já muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em
ombros fracos. O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à
resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição.
Cumpre, porém, merecêla, e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações.
O militar que
não é mandado para as linhas de fogo fica descontente, porque o repouso no campo nenhuma
ascensão de posto lhe faculta. Sede, pois, como o militar e não desejeis um repouso em
que o vosso corpo se enervaria e se entorpeceria a vossa alma. Alegrai-vos, quando Deus
vos enviar para a luta. Não consiste esta no fogo da batalha, mas nos amargores da vida,
onde, às vezes, de mais coragem se há mister do que num combate sangrento, porquanto
não é raro que aquele que se mantém firme em presença do inimigo fraqueje nas tenazes
de uma pena moral. Nenhuma recompensa obtém o homem por essa espécie de coragem; mas, Deus lhe reserva palmas de
vitória e uma situação gloriosa.
Quando vos advenha uma causa de sofrimento ou de contrariedade,
sobreponde-vos a ela, e, quando houverdes conseguido dominar os ímpetos da impaciência,
da cólera, ou do desespero, dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação:
"Fui o mais forte." Bem-aventurados os aflitos pode então traduzir-se
assim: Bem-aventurados os que têm ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua
perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão centuplicada a alegria
que lhes falta na Terra, porque depois do labor virá o repouso. - Lacordaire. (Havre,
1863.)
19. Será a
Terra um lugar de gozo, um paraíso de delícias? Já não ressoa mais aos vossos ouvidos
a voz do profeta? Não proclamou ele que haveria prantos e ranger de dentes para os que
nascessem nesse vale de dores? Esperai, pois, todos vós que aí viveis, causticantes
lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas e profundas sejam as vossas dores, volvei o
olhar para o Céu e bendizei do Senhor por ter querido experimentar-vos... Ó homens!
dar-se-á não reconheçais o poder do vosso Senhor, senão quando ele vos haja curado as
chagas do corpo e coroado de beatitude e ventura os vossos dias? Dar-se-á não
reconheçais o seu amor, senão quando vos tenha adornado o corpo de todas as glórias e
lhe haja restituído o brilho e a brancura? Imitai aquele que vos foi dado para exemplo.
Tendo chegado ao último grau da abjeção e da miséria, deitado sobre uma estrumeira,
disse ele a Deus: "Senhor, conheci todos os deleites da opulência e me reduzistes à
mais absoluta miséria; obrigado,
obrigado, meu Deus, por haverdes querido experimentar o vosso
servo!" Até quando os vossos olhares se deterão nos horizontes que a morte limita?
Quando, afinal, vossa alma se decidirá a lançar-se para
além dos limites de um túmulo? Houvésseis de chorar e sofrer a vida
inteira, que seria isso, a par da eterna glória reservada ao que tenha sofrido a prova
com fé, amor e resignação? Buscai consolações para os vossos males no porvir que Deus
vos prepara e procurai-lhe a causa no passado. E vós, que mais sofreis, considerai-vos os
afortunados da Terra.
Como
desencarnados, quando pairáveis no Espaço, escolhestes as vossas provas, julgando-vos
bastante fortes para as suportar. Por que agora murmurar? Vós, que pedistes a riqueza e a
glória, queríeis sustentar luta com a tentação e vencê-la. Vós, que pedistes para
lutar de corpo e espírito contra o mal moral e físico, sabíeis que quanto mais forte
fosse a prova, tanto mais gloriosa a vitória e que, se triunfásseis, embora devesse o
vosso corpo parar numa estrumeira, dele, ao morrer, se desprenderia uma alma de rutilante
alvura e purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento.
Que remédio,
então, prescrever aos atacados de obsessões cruéis e de cruciantes males? Só um é
infalível: a fé, o apelo ao Céu. Se, na maior acerbidade dos vossos sofrimentos,
entoardes hinos ao Senhor, o anjo, à vossa cabeceira, com a mão vos apontará o sinal da
salvação e o lugar que um dia ocupareis... A fé é o remédio seguro do sofrimento;
mostra sempre os horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias brumosos
do presente. Não nos pergunteis, portanto, qual o remédio para curar tal úlcera ou tal
chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrai-vos de que aquele que crê é forte pelo
remédio da fé e que aquele que duvida um instante da sua eficácia é imediatamente
punido, porque logo sente as pungitivas angústias da aflição.
O Senhor
apôs o seu selo em todos os que nele crêem. O Cristo vos disse que com a fé se
transportam montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo ficara sob
a sua égide e não mais sofrerá. Os momentos das mais fortes dores lhe serão as
primeiras notas alegres da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira do corpo,
que, enquanto se estorcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, entoando,
com os anjos, hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Ditosos os
que sofrem e choram! Alegres estejam suas almas, porque Deus as cumulará de
bem-aventuranças. - Santo Agostinho. (Paris, 1863.)
A felicidade não é
deste mundo
20. Não sou
feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem em todas as
posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova, melhor do que todos os raciocínios
possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste
mundo." Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida juventude são
condições essenciais à felicidade. Digo mais: nem mesmo reunidas essas três
condições tão desejadas, porquanto incessantemente se ouvem, no seio das classes mais
privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se
encontram.
Diante de tal
fato, é incontestável que as classes laboriosas e militantes invejem com tanta ânsia a
posição das que parecem favorecidas da fortuna. Neste mundo, por mais que faça, cada um
tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de sofrimentos e de decepções, donde
facilmente se chega à conclusão de que a Terra é lugar de provas e de expiações.
Assim, pois,
os que pregam que ela é a única morada do homem e que somente nela e numa só
existência é que lhe cumpre alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua
natureza comporta, iludem-se e enganam os que os escutam, visto que demonstrado está, por
experiência arqui-secular, que só excepcionalmente este globo apresenta as condições
necessárias à completa felicidade do indivíduo.
Em tese geral
pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam
sucessiva mente, sem jamais lograrem alcançá-la. Se o homem ajuizado é uma raridade
neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado.
O em que
consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera para aquele que não tem a guiá-lo
a ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana de satisfação completa, todo o
resto da existência é uma série de amarguras e decepções. E notai, meus caros filhos,
que falo dos venturosos da Terra, dos que são invejados pela multidão.
Conseguintemente,
se à morada terrena são peculiares as provas e a expiação, forçoso é se admita que,
algures, moradas há mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado ainda numa
carne material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes à vida humana. Tal a razão
por que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais os
vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando vos achardes
suficientemente purificados e aperfeiçoados.
Todavia, não
deduzais das minhas palavras que a Terra esteja destinada para sempre a ser uma
penitenciária. Não, certamente! Dos progressos já realizados, podeis facilmente deduzir
os progressos futuros e, dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e mais fecundos
melhoramentos. Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à nova doutrina que os
Espíritos vos revelaram.
Assim, pois,
meus queridos filhos, que uma santa emulação vos anime e que cada um de vós se despoje
do homem velho. Deveis todos consagrar-vos à propagação desse Espiritismo que já deu
começo à vossa própria regeneração. Corre-vos o dever de fazer que os vossos irmãos
participem dos raios da sagrada luz. Mãos, portanto, à obra, meus muito queridos filhos!
Que nesta reunião solene todos os vossos corações aspirem a esse grandioso objetivo de
preparar para as gerações porvindouras um mundo onde já não seja vã a palavra
felicidade. - François-Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot. (Paris, 1863.)
Perda de
pessoas amadas. Mortes prematuras
21. Quando a
morte ceifa nas vossas famílias, arrebatando, sem restrições, os mais moços antes dos
velhos, costumais dizer: Deus não é justo, pois sacrifica um que está forte e tem
grande futuro e conserva os que já viveram longos anos cheios de decepções; pois leva
os que são úteis e deixa os que para nada mais servem; pois despedaça o coração de
uma mãe, privando-a da inocente criatura que era toda a sua alegria.
Humanos, é
nesse ponto que precisais elevar-vos acima do terra-a-terra da vida, para compreenderdes
que o bem, muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia previdência onde pensais
divisar a cega fatalidade do destino. Por que haveis de avaliar a justiça divina pela
vossa? Podeis supor que o Senhor dos mundos se aplique, por mero capricho, a vos infligir
penas cruéis? Nada se faz sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo
tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos advêm, nelas
encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e os vossos miseráveis
interesses se tornariam de tão secundária consideração, que os atiraríeis para o
último plano.
Crede-me, a
morte é preferível, numa encarnação de vinte anos, a esses vergonhosos desregramentos
que pungem famílias respeitáveis, dilaceram corações de mães e fazem que antes do
tempo embranqueçam os cabelos dos pais. Freqüentemente, a morte prematura é um grande
benefício que Deus concede àquele que se vai e que assim se preserva das misérias da
vida, ou das seduções que talvez lhe acarretassem a perda. Não é vítima da fatalidade
aquele que morre na flor dos anos; é que Deus julga não convir que ele permaneça por
mais tempo na Terra.
É uma
horrenda desgraça, dizeis, ver cortado o fio de uma vida tão prenhe de esperanças! De
que esperanças falais? Das da Terra, onde o liberto houvera podido brilhar, abrir caminho
e enriquecer? Sempre essa visão estreita, incapaz de elevar-se acima da matéria. Sabeis
qual teria sido a sorte dessa vida, ao vosso
parecer tão cheia de esperanças? Quem vos diz que ela não seria saturada de amarguras?
Desdenhais então das esperanças da vida futura, ao ponto de lhe preferirdes as da vida
efêmera que arrastais na Terra? Supondes então que mais vale uma posição elevada entre
os homens, do que entre os Espíritos bem-aventurados?
Em vez de vos
queixardes, regozijai-vos quando praz a Deus retirar deste vale de misérias um de seus
filhos. Não será egoístico desejardes que ele aí continuasse para sofrer convosco? Ah!
essa dor se concebe naquele que carece de fé e que vê na morte uma separação eterna.
Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu
invólucro corpóreo. Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim,
estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a
lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores
desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a
vontade de Deus.
Vós, que
compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses
entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes
consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos
mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu. - Sanson, ex-membro da
Sociedade Espírita de Paris. (1863.)
Se fosse um
homem de bem, teria morrido
22. Falando
de um homem mau, que escapa de um perigo, costumais dizer: "Se fosse um homem bom,
teria morrido." Pois bem, assim falando, dizeis uma verdade, pois, com efeito, muito
amiúde sucede dar Deus a um Espírito de progresso ainda incipiente prova mais longa, do
que a um bom que, por prêmio do seu mérito, receberá a graça de ter tão curta quanto
possível a sua provação. Por conseguinte, quando vos utilizais daquele axioma, não
suspeitais de que proferis uma blasfêmia.
Se morre um
homem de bem, cujo vizinho é mau homem, logo observais: "Antes fosse este."
Enunciais uma enormidade, porquanto aquele que parte concluiu a sua tarefa e o que fica
talvez não haja principiado a sua. Por que, então, haveríeis de querer que ao mau
faltasse tempo para terminá-la e que o outro permanecesse preso à gleba terrestre? Que
diríeis se um prisioneiro, que cumpriu a sentença contra ele pronunciada, fosse
conservado no cárcere, ao mesmo tempo que restituíssem à liberdade um que a esta não
tivesse direito? Ficai sabendo que a verdadeira liberdade, para o Espírito, consiste no
rompimento dos laços que o prendem ao corpo e que, enquanto vos achardes na Terra,
estareis em cativeiro.
Habituai-vos
a não censurar o que não podeis compreender e crede que Deus é justo em todas as
coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no entanto, são
as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreendem os vossos sentidos
obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa acanhada esfera e, à medida
que vos elevardes, diminuirá para vós a importância da vida material que, nesse caso,
se vos apresentará como simples incidente, no curso infinito da vossa existência
espiritual, única existência verdadeira. - Fénelon. (Sens, 1861.)
23. Vive o
homem incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente lhe foge, porque
felicidade sem mescla não se encontra na Terra. Entretanto, mau grado às vicissitudes
que formam o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de
relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas
vicissitudes, isto é, nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que
são um prelibar dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do
coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o
agitará e turbará, e, coisa singular! o homem, como que de intento, cria para si
tormentos que está nas suas mãos evitar.
Haverá
maiores do que os que derivam da inveja e do ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não
há repouso; estão perpetuamente febricitantes. O que não têm e os outros possuem lhes
causa insônias. Dão-lhes vertigem os êxitos de seus rivais; toda a emulação, para
eles, se resume em eclipsar os que lhes estão próximos, toda a alegria em excitar, nos
que se lhes assemelham pela insensatez, a raiva do ciúme que os devora. Pobres
insensatos, com efeito, que não imaginam sequer que, amanhã talvez, terão de largar
todas essas frioleiras cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles, decerto, que se
aplicam estas palavras: "Bem-aventurados os aflitos, pois que serão
consolados", visto que as suas preocupações não são aquelas que têm no céu as
compensações merecidas.
Que de
tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe contentar-se com o que tem, que nota
sem inveja o que não possui, que não procura parecer mais do que é. Esse é sempre
rico, porquanto, se olha para baixo de si e não para, cima, vê sempre criaturas que têm
menos do que ele. E calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas. E não será
uma felicidade a calma, em meio das tempestades da vida? - Fénelon. (Lião, 1860.)
24. Toda a
gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o caráter
múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que a desgraça real não
é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o supõem. Eles a vêem na
miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente
desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o
coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara
envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e
a muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana. Sim, é desgraça
para os que só vêem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas
conseqüências de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um acontecimento,
considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta conseqüências funestas, não é,
realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva contrariedade e acaba
produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade que vos arranca as arvores, mas que saneia o
ar, dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade
do que uma infelicidade.
Para
julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim, para bem
apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos
transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as conseqüências se fazem
sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa
com a vida corporal e encontra a sua compensação
na vida futura.
Vou
revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e
desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o
prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem
calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com
relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente
procurais conseguir.
Esperai, vós
que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito! A Deus não
se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas do que a
matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o repouso ilusório para vos imergir de
súbito na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada
pela indiferença e pelo egoísmo.
Que, pois, o
Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o
erro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agireis então como bravos
soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à paz
que lhes não pode dar glória, nem promoção! Que importa ao soldado perder na refrega
armas, bagagens e uniforme, desde que saia vencedor e com glória? Que importa ao que tem
fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne, contanto
que sua alma entre gloriosa no reino celeste? - Delfina de Girardin. (Paris, 1861.)
25. Sabeis
por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a
considerar amarga a vida? E que vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade,
se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele.
Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a
influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais
infelizes.
Crede-me,
resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. São inatas no
espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas, não as busqueis
neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos
instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da
libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos mantêm cativo o Espírito.
Lembrai-vos de que, durante o vosso degredo na Terra, tendes de desempenhar uma missão de
que não suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as diversas
obrigações que Deus vos confiou. Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos
dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e tribulações,
sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os resolutos. Duram pouco e vos
conduzirão à companhia dos amigos por quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo
entre eles, vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às
aflições da Terra. - François de Genève. (Bordéus.)
Provas
voluntárias. O verdadeiro cilício
26.
Perguntais se é licito ao homem abrandar suas próprias provas. Essa questão eqüivale a
esta outra: É lícito, àquele que se afoga, cuidar de salvar-se? Aquele em quem um
espinho entrou, retirá-lo? Ao que está doente, chamar o médico? As provas têm por fim
exercitar a inteligência, tanto quanto a paciência e a resignação. Pode dar-se que um
homem nasça em posição penosa e difícil, precisamente para se ver obrigado a procurar
meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em sofrer, sem murmurar, as
conseqüências dos males que lhe não seja possível evitar, em perseverar na luta, em se
não desesperar, se não é bem-sucedido; nunca, porém, numa negligência que seria mais
preguiça do que virtude.
Essa questão
dá lugar naturalmente a outra. Pois, se Jesus disse: "Bem-aventurados os
aflitos", haverá mérito em procurar, alguém, aflições que
lhe agravem as provas, por meio de
sofrimentos voluntários? A isso responderei muito positivamente: sim,
há grande mérito
quando os sofrimentos e as privações objetivam o bem do próximo,
porquanto é a caridade
pelo sacrifício; não, quando os sofrimentos e as privações somente
objetivam o bem daquele
que a si mesmo as inflige, porque aí só há egoísmo por fanatismo.
Grande
distinção cumpre aqui se faça: pelo que vos respeita pessoalmente, contentaivos com as
provas que Deus vos manda e não lhes aumenteis o volume, já de si por vezes tão pesado;
aceitá-las sem queixumes e com fé, eis tudo o que de vós exige ele. Não enfraqueçais
o vosso corpo com privações inúteis e macerações sem objetivo, pois que necessitais
de todas as vossas forças para cumprirdes a vossa missão de trabalhar na Terra. Torturar
e martirizar voluntariamente o vosso corpo é coutravir a lei de Deus, que vos dá meios
de o sustentar e fortalecer. Enfraquece-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio.
Usai, mas não abuseis, tal a lei. O abuso das melhores coisas tem a sua punição nas
inevitáveis conseqüências que acarreta.
Muito diverso
é o quê ocorre, quando o homem impõe a si próprio sofrimentos para o alívio do seu
próximo. Se suportardes o frio e a fome para aquecer e alimentar alguém que precise ser
aquecido e alimentado e se o vosso corpo disso se ressente, fazeis um sacrifício que Deus
abençoa. Vós que deixais os vossos aposentos perfumados para irdes à mansarda infecta
levar a consolação; vós que sujais as mãos delicadas pensando chagas; vós que vos
privais do sono para velar à cabeceira de um doente que apenas é vosso irmão em Deus;
vós, enfim, que despendeis a vossa saúde na prática das boas obras, tendes em tudo isso
o vosso cilício, verdadeiro e abençoado cilício, visto que os gozos do mundo não vos
secaram o coração, que não adormecestes no seio das volúpias enervantes da riqueza,
antes vos constituístes anjos consoladores dos pobres deserdados.
Vós, porém,
que vos retirais do mundo, para lhe evitar as seduções e viver no insulamento, que
utilidade tendes na Terra? Onde a vossa coragem nas provações, uma vez que fugis à luta
e desertais do combate? Se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas e não aos
vossos corpos; mortificai o vosso Espírito e não a vossa carne; fustigai o vosso
orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amor-próprio;
enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente do que a dor física.
Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a
vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus. Um anjo guardião. (Paris,
1863.)
Dever-se-á
pôr termo às provas do próximo?
27. Deve
alguém por termo às provas do seu próximo quando o possa, ou deve, para respeitar os
desígnios de Deus, deixar que sigam seu curso?
Já vos temos
dito e repetido muitíssimas vezes que estais nessa Terra de expiação para concluirdes
as vossas provas e que tudo que vos sucede é conseqüência das vossas existências
anteriores, são os juros da divida que tendes de pagar. Esse pensamento, porém, provoca
em certas pessoas reflexões que devem ser combatidas, devido aos funestos efeitos que
poderiam determinar.
Pensam alguns
que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que as provas sigam seu curso. Outros há,
mesmo, que vão até ao ponto de julgar que, não só nada devem fazer para as atenuar,
mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as
mais vivas. Grande erro. E certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes
traçou Deus; dar-se-á, porém, conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e
se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos
irmãos: "Não irás mais longe?" Sabeis se a Providência não vos escolheu,
não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o
bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não
digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: "E a justiça de Deus,
importa que siga o seu curso. Dizei antes: "Vejamos que meios o Pai misericordioso me
pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas
consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer
essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs
nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não me deu a mim, também como
prova, como expiação talvez, deter o mal e substituí-lo pela paz."
Ajudai-vos,
pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos considereis
instrumentos de tortura. Contra essa idéia deve revoltar-se todo homem de coração,
principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve
compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado
de que a sua vida toda tem de ser um ato de amor e de devotamento; que, faça ele o que
fizer para se opor às decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços
por atenuar o amargor da expiação, certo, porém, de que só a Deus cabe detê-la ou
prolongá-la, conforme julgar conveniente.
Não haveria
imenso orgulho, da parte do homem, em se considerar no direito de, por assim dizer,
revirar a arma dentro da ferida? De aumentar a dose do veneno nas vísceras daquele que
está sofrendo, sob o pretexto de que tal é a sua expiação? Oh! considerai-vos sempre
como instrumento para fá-la cessar. Resumindo: todos estais na Terra para expiar; mas,
todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos
semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade. - Bernardino, Espírito
protetor. (Bordéus, l863.)
Será lícito abreviar a vida de um doente que
28. Um
homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado é
desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe alguns instantes de angústias,
apressando-se-lhe o fim?
Quem vos
daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem até à
borda do fosso, para dai o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar idéias
diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém
pode afirmar com segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá
enganado nunca em suas previsões?
Sei bem haver
casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma
esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade,
atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último
suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de
graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as
reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos
lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.
O
materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta tem a alma, é inapto a
compreender essas coisas; o espírita, porém, que já sabe o que se passa no
além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai os derradeiros
sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um
minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro. - S. Luís. (Paris,
1860.)
29. Aquele
que se acha desgostoso da vida mas que não quer extingui-la por suas próprias mãos,
será culpado se procurar a morte num campo de batalha, com o propósito de tornar útil
sua morte?
Que o homem
se mate ele próprio, ou faça que outrem o mate, seu propósito é sempre cortar o fio da
existência: há, por conseguinte, suicídio intencional, se não de fato. E ilusória a
idéia de que sua morte servirá para alguma coisa; isso não passa de pretexto para
colorir o ato e escusá-lo aos seus próprios olhos. Se ele desejasse seriamente servir ao
seu país, cuidaria de viver para defendê-lo; não procuraria morrer, pois que, morto, de
nada mais lhe serviria. O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se
trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício
da vida, se for necessário. Mas, buscar a morte com premeditada intenção, expondo-se
a um perigo, ainda que para prestar serviço, anula o mérito da ação. - S. Luís. (Paris,
1860)
30. Se um
homem se expõe a um perigo iminente para salvar a vida a um de seus semelhantes, sabendo
de antemão que sucumbirá, pode o seu ato ser considerado suicídio?
Desde que no
ato não entre a intenção de buscar a morte, não há suicídio e, sim, apenas,
devotamento e abnegação, embora também haja a certeza de que morrera. Mas, quem pode
ter essa certeza? Quem poderá dizer que a Providência não reserva um inesperado meio de
salvação para o momento mais crítico?
Não poderia
ela salvar mesmo aquele que se achasse diante da boca de um canhão? Pode muitas vezes
dar-se que ela queira levar ao extremo limite a prova da resignação e, nesse caso, uma
circunstância inopinada desvia o golpe fatal. -S. Luís. (Paris, 1860.)
Proveito dos
sofrimentos para outrem
31. Os que
aceitam resignados os sofrimentos, por submissão à vontade de Deus e tendo em vista a
felicidade futura, não trabalham somente em seu próprio benefício? Poderão tornar seus
sofrimentos proveitosos a outrem?
Podem esses
sofrimentos ser de proveito para outrem, material e moralmente: materialmente se, pelo
trabalho, pelas privações e pelos sacrifícios que tais criaturas se imponham,
contribuem para o bem-estar material de seus semelhantes; moralmente, pelo exemplo que
elas oferecem de sua submissão à vontade de Deus. Esse exemplo do poder da fé espírita
pode induzir os desgraçados à resignação e salvá-los do desespero e de suas
conseqüências funestas para o futuro. - S. Luís. (Paris, 1860.)