Parte Terceira - Das Leis Morais
1. População do globo. - 2. Sucessão e aperfeiçoamento das raças.
- 3. Obstáculos à
686. É lei
da Natureza a reprodução dos seres vivos?
Evidentemente. Sem a reprodução, o mundo corporal pereceria.
687. Indo
sempre a população na progressão crescente que vemos, chegará tempo
Não, Deus a isso provê e mantém sempre o equilíbrio. Ele coisa alguma inútil faz. O homem, que apenas vê um canto do quadro da Natureza, não pode julgar da harmonia do conjunto.
Sucessão e aperfeiçoamento das raças
688. Há,
neste momento, raças humanas que evidentemente decrescem. Virá
Assim acontecerá, de fato. É que outras lhes terão tomado o lugar, como outras um dia tomarão o da vossa.
689. Os
homens atuais formam uma criação nova, ou são descendentes
São os mesmos Espíritos que voltaram, para se aperfeiçoar em novos corpos, mas que ainda estão longe da perfeição. Assim, a atual raça humana, que, pelo seu crescimento, tende a invadir toda a Terra e a substituir as raças que se extinguem, terá sua fase de crescimento e de desaparição. Substituí-la-ão outras raças mais aperfeiçoadas, que descenderão da atual, como os homens civilizados de hoje descendem dos seres brutos e selvagens dos tempos primitivos.
690. Do
ponto de vista físico, são de criação especial os corpos da raça atual, ou
A origem das raças se perde na noite dos tempos. Mas, como pertencem todas à grande família humana, qualquer que tenha sido o tronco de cada uma, elas puderam aliarse entre si e produzir tipos novos.
691. Qual,
do ponto de vista físico, o caráter distintivo e dominante das raças
Desenvolvimento da força bruta, à custa da força intelectual. Agora, dá-se o contrário: o homem faz mais pela inteligência do que pela força do corpo. Todavia, faz cem vezes mais, porque soube tirar proveito das forças da Natureza, o que não conseguem os animais.
692. Será
contrário à lei da Natureza o aperfeiçoamento das raças animais e
Tudo se deve fazer para chegar à perfeição e o próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir Seus fins. Sendo a perfeição a meta para que tende a Natureza, favorecer essa perfeição é corresponder às vistas de Deus.
a) - Mas,
geralmente, os esforços que o homem emprega para conseguir a melhoria
Que importa seja nulo o seu merecimento, desde que o progresso se realize? Cabelhe tornar meritório, pela intenção, o seu trabalho. Demais, mediante esse trabalho, ele exercita e desenvolve a inteligência e sob este aspecto é que maior proveito tira.
693. São
contrários à lei da Natureza as leis e os costumes humanos que têm por
Tudo o que embaraça a Natureza em sua marcha é contrário à lei geral.
a) - Entretanto,
há espécies de seres vivos, animais e plantas, cuja reprodução
Deus concedeu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder de que ele deve usar, sem abusar. Pode, pois, regular a reprodução, de acordo com as necessidades. A ação inteligente do homem é um contrapeso que Deus dispôs para restabelecer o equilíbrio entre as forças da Natureza e é ainda isso o que o distingue dos animais, porque ele obra com conhecimento de causa. Mas, os mesmos animais também concorrem para a existência desse equilíbrio, porquanto o instinto de destruição que lhes foi dado faz com que, provendo à própria conservação, obstem ao desenvolvimento excessivo, quiçá perigoso, das espécies animais e vegetais de que se alimentam.
694. Que se
deve pensar dos usos, cujo efeito consiste em obstar à reprodução, para
Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e quanto o homem é material.
695. Será
contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de
É um progresso na marcha da Humanidade.
696. Que
efeito teria sobre a sociedade humana a abolição do casamento?
Seria uma regressão à vida dos animais.
O estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos. O casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se observa entre todos os povos, se bem que em condições diversas. A abolição do casamento seria, pois, regredir à infância da Humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de certos animais que lhe dão o exemplo de uniões constantes.
697. Está
na lei da Natureza, ou somente na lei humana, a indissolubilidade
É uma lei humana muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis.
698. O
celibato voluntário representa um estado de perfeição meritório aos olhos
Não, e os que assim vivem, por egoísmo, desagradam a Deus e enganam o mundo.
699. Da
parte de certas pessoas, o celibato não será um sacrifício que fazem com o
Isso é muito diferente. Eu disse: por egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem. Quanto maior o sacrifício, tanto maior o mérito.
Não é possível que Deus se contradiga, nem que ache mau o que Ele próprio fez. Nenhum mérito, portanto, pode haver na violação da Sua lei. Mas, se o celibato, em si mesmo, não é um estado meritório, outro tanto não se dá quando constitui, pela renúncia às alegrias da família, um sacrifício praticado em prol da Humanidade. Todo sacrifício pessoal, tendo em vista o bem e sem qualquer idéia egoísta, eleva o homem acima da sua condição material.
700. A
igualdade numérica, que mais ou menos existe entre os sexos, constitui
Sim, porquanto tudo, em a Natureza, tem um fim.
701. Qual
das duas, a poligamia ou a monogamia, é mais conforme à lei da
A poligamia é lei humana cuja abolição marca um progresso social. O casamento, segundo as vistas de Deus, tem que se fundar na afeição dos seres que se unem. Na poligamia não há afeição real: há apenas sensualidade.
Se a poligamia fosse conforme à lei da Natureza, devera ter possibilidade de tornarse universal, o que seria materialmente impossível, dada a igualdade numérica dos sexos. Deve ser considerada como um uso ou legislação especial apropriada a certos costumes e que o aperfeiçoamento social fez que desaparecesse pouco a pouco.